quinta-feira, 10 de novembro de 2011

belo monte e índios xikrin

fonte - amazonia
http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=398312




Índios xikrin do Bacajá pedem ao MPF/PA medidas contra Belo Monte - 09/11/2011

Local: Brasília - DF
Fonte: MPF - Ministério Público Federal
Link: http://www.mpf.gov.br 


Eles contestam informações da Norte Energia de que não serão impactados pela usina e temem extinção de peixes e perda dos territórios de caça
Os índios xikrin da Terra Indígena Trincheira-Bacajá, no Pará, convidaram o procurador da República Felício Pontes Jr para reuniões no mês passado e solicitaram que o Ministério Público Federal adote medidas contra a usina hidrelétrica de Belo Monte.  Eles moram às margens do rio Bacajá, afluente que deságua justamente no trecho do Xingu que deve desaparecer com a barragem.
Os estudos de impacto da hidrelétrica mencionam impactos sobre o Bacajá apenas com base em fontes secundárias.  Apenas em 2011 começaram a ser feitos estudos complementares com termo de referência específico para determinar os efeitos da usina no afluente e nos Xikrin que nele vivem.  Os índios, durante a visita do procurador, relataram que os engenheiros da Norte Energia afirmaram por diversas vezes que eles seriam informados dos impactos, o que ainda não aconteceu.
Os xikrin se dizem muito preocupados com a falta de respostas e, durante as reuniões, sobretudo os líderes mais velhos pareciam muito certos dos impactos que sofrerão.  Os anciões xikrin se revezaram durante dois dias, 13 e 14 de outubro, dizendo à equipe do MPF palavras de preocupação, indignação e relatando o desrespeito que sofrem.
A grande preocupação dos anciãos é com as gerações futuras.  “Nós não queremos Belo Monte.  Nosso rio Bacajá é pequeno.  Se sair Belo Monte, o que nossos filhos e netos vão comer?  Até pra beber água vamos precisar de outro rio.  Quero o rio para sempre”, disse um dos velhos xikrin ao procurador Felício Pontes Jr.
Os índios explicaram que os peixes sobem o rio Bacajá até a cabeceira para desova, vindo da Volta Grande do Xingu.  Com a diminuição de 80% a 90% no volume de água da Volta Grande, os indígenas concluem que haverá o desaparecimento dos peixes.
Eles também afirmam que os territórios de caça serão perdidos, porque os animais terão que buscar água em outro lugar com a mudança na qualidade e na vazão do rio.  Informaram ao MPF que há um forte declive do rio Bacajá.  Os trechos do alto e médio Bacajá estão em altitude superior ao de sua foz e, com diminuição drástica no volume de água da Volta Grande do Xingu, haverá aceleração considerável da vazão do rio Bacajá, com consequente diminuição do volume de água.
O cacique Bepkatenti, que conhece bem o rio Bacajá, lembrou durante a reunião do tempo de uma seca muito grande.  “O rio Bacajá ficou, em alguns trechos, como poças de água parada”.  Ele afirma que assim será permanentemente se a barragem for construída.  “Hoje tenho muitos netos e caço pra eles comerem.  Quando vier a barragem, não vai ter comida”, completou o velho Potpa Xikrin.
Outra liderança, Bep-Djare Xikrin, disse que se sente enganado pelos brancos, porque receberam promessas do governo de que, com a construção da usina, eles seriam beneficiados com verbas para moradia, saúde, educação e transporte.  Em vez disso, os índios acusam a Norte Energia de estar recebendo e administrando todo o dinheiro destinado às aldeias.
“Construtor de Belo Monte promete muito e nunca faz”, resume Bep-Djô Xikrin, liderança da aldeia Bakajá, uma das oito que existem dentro da Terra Trincheira-Bacajá.  “Estão mentindo para mim há muito tempo.  O governo só quer fazer Belo Monte, só pensa nisso, não pensa nos índios”, conclui.
Além de líderes das aldeias e da equipe do MPF, participaram das reuniões a antropóloga Clarice Cohn, da Universidade Federal de São Carlos e integrantes do Instituto Socioambiental e do movimento Xingu Vivo para Sempre, também convidados dos índios.  Os relatos e pedidos dos índios serão incorporados a mais uma das investigações do MPF sobre Belo Monte.  Atualmente, os procuradores da República que atuam no Pará acompanham mais de 40 investigações sobre problemas causados pela hidrelétrica.

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