sábado, 25 de fevereiro de 2012

Comissão da Aty Guasu Guarani-Kaiowá-MS

fonte - GIBA-CIMI, MT



Prezados (as),



Comissão da Aty Guasu Guarani-Kaiowá-MS

Relatório da 1ª visita/2012 às comunidades guarani-kaiowá dos territórios reocupados em conflito, localizados no cone sul de MS, na faixa de fronteira entre Brasil e Paraguai. Período de visitação/diligência: 17/02 a 22/02/2012

Objetivo de visitação/diligência: Nós integrantes da comissão de Aty Guasu encarregada de realizar acompanhamento e levantamento in loco das situações dos nossos parentes Guarani-Kaiowá das áreas reocupadas em conflito, apesar de todas as nossas dificuldades, tais como: sem recursos, sem apoio nenhum, etc, estivemos em diligência aos territórios tradicionais reocupados que se encontram em conflito intenso no cone sul de Mato Grosso do Sul. Um dos nossos objetivos, como porta-vozes da Aty Guasu, é ouvir e ver diretamente os integrantes das comunidades pertencentes às partes dos territórios em conflito. Somente com a proteção divina da ñadejara ypy (deuses) não aconteceu nada de ruim conosco durante a visitação e conseguimos com êxito receber as informações diversas das lideranças que se tornarão como as pautas de debate na Aty Guasu/2012. Além disso, levamos a mensagem aos parentes que haverá aty guasu em Terra Indígena Jaguapiré-Tacuru-MS onde serão apresentadas e socializadas as nossas demandas e reivindicações às autoridades competentes, buscando as soluções possíveis para nossas demandas atuais.

Assim, pretendemos através deste relatório reproduzir e destacar alguns relatos das lideranças dos territórios em conflitos (Kurusu Amba, Ypo’i, Pyelito kue, Mbarakay, Yvy Katu, Sombrerito, Guaiviry, entre outros.).

A maioria das lideranças narraram que na pequena parte reocupada (Pyelito kue e Ypo’i, Kurusu Amba, etc) dos territórios tradicionais tekoha guasu onde se encontra em manifestação/protesto contínuo, ali eles recebem frequentemente os ataque cruéis e ameaças de variadas formas: “à noite fazem tiros nas redondezas dos nossos acampamentos, chegaram ao acampamento procurando identificar nossas lideranças e ameaçando de morte, soltaram gados no acampamento para nos dispersar, botou fogo no capim ao próximo do acampamento Pyelito kue para nos criminalizar”. Em geral, os pistoleiros estão cercando e isolando as áreas reocupadas, não deixando perambular os indígenas.

“Pela estrada vicinal há pistoleiros de motos e carros especiais ameaçando-nos.” “Em torno do nosso acampamento, dia e noite há pistoleiros de cavalo e motoqueiro também”. Contaram lideranças de Pyelito kue-Mbarakay e Kurusu Amba.

“Aqui nos acampamentos há crianças-alunas, porém, não há saída para criançadas irem frequentar a escola por conta do impedimento dos pistoleiros das fazendas”. Queríamos a sala de aula/escola aqui na área.

“Aqui não chega a equipe da saúde, os pistoleiros não deixa”. “Aqui no acampamento, nós todos daqui, várias vezes, já passamos fome, doente. a FUNAI demora em entregar alguns alimentos”. “Apesar de todas as ameaças e misérias em que vivemos aqui dia-a-dia, porém nós não vamos desistir em luta pela nossa terra antiga.” “Vamos aguardar aqui no acampamento a demarcação de nosso tekoha guasu”. Assim, narraram lideranças guarani-kaiowá do tekoha Pyelito kue-Mbarakay, Ypo’i, Kurusu Amba.

Um dos temas preocupantes e graves (no que diz respeito à área de assistência à saúde indígena) foi socializado entre lideranças de tekoha Yvy Katu e Sombrerito, Kurusu Amba, Potrero Guasu. Comentaram que algumas pessoas indígenas do acampamento em conflito (Sombrerito, Pyelito kue, Potrero Guasu) que foram encaminhados aos hospitais, retornaram ao acampamento já sem vida ou morto. Por exemplo: “De tekoha Sombrerito uma mulher indígena pós-parto tradicional foi encaminhado ao hospital junto com bebê, algum dias depois, ela foi entregue aos parentes já sem vida. Foi um susto e medo” disse líder indígena.

Em geral, os integrantes guarani-kaiowá das áreas reocupadas não são atendidos pela equipe de saúde, quando os atenderam, muitas vezes atendem de modo inadequados, gerando surpresas e constrangimentos nas lideranças e parentes dos acampamentos.

“No final de 2011, o kaiowá Rosalino Lopes ferido pelos pistoleiros em Pyelito kue morreu sem atendimento médico”. “Em Kurusu Amba morreram 03 crianças por falta de atendimentos da equipe de saúde” Lembraram as lideranças.

Um dos assuntos grave foi socializado pela liderança de Kurusu Amba, “uma parente indígena da aldeia Takuapiry faleceu no hospital e foi entregue aos parentes e famílias o corpo tudo cortado ou dilacerado, ao longo do peito e barriga teve corte e tripa e pulmões foram retirados do corpo”.

No que diz respeito à equipe de saúde indígena da FUNASA/DESAI: a liderança de tekoha Potrero Guasu narrou que ele teve desentendimento com um dos conselheiros da equipe da saúde indígena local, em Paranhos-MS. Ele como liderança da área reocupada Potrero Guasu denunciou a equipe da saúde local, após morte de um indígena por falta de atendimento da equipe de saúde, porém um conselheiro indígena de saúde local contrariou a sua denúncia, defendendo a DESAI. Visto que o conselheiro de saúde indígena é funcionário da DESAI ou equipe de saúde indígena. “Um meu tio morreu por falta de medicamento, sobre isso queria falar na reunião em Paranhos, mas fui interrompido, expulso por um conselheiro da equipe de saúde, não deixou eu falar”, tive q sair da reunião onde era tratado o atendimento a saúde indígena”, contou. Ainda observou e disse: “a equipe de saúde e a DESAI e geral deveria mudar a formar de trabalhar e passar a ouvir a liderança do tekoha e Aty Guasu, não ouvir somente o conselheiro dele”. Diante disso, um dos temas da Aty Guasu será a formar de trabalhar a equipe da DESAI e saúde indígena nas áreas reocupadas. Aguardamos o responsável pela saúde indígena da DESAI e do Ministério da Saúde.

Do exposto acima, nós da comissão da Aty Guasu, consideramos que todos os relatos das lideranças das áreas reocupadas serão pautas da Aty Guasu, portanto efetuamos os registros dos fatos constatados durante a nossa visita aos referidos acampamentos indígenas, e por fim submetemos a apreciação de todas as autoridades brasileiras (MPF,SDH, PRESIDENTE DA REPÚBLICA, FUNAI, FUNASA, ETC) para tomar providências cabíveis e legais.

Por último, aproveitamos a oportunidade para reforçar o convite das lideranças guarani-kaiowá a fim de que Vossas Excelências participem da Aty Guasu que haverá entre os dias 01/03/2012 e 03/03/2012 na T. I. Jaguapiré-Tacuru-MS. Estamos à disposição de Vossas Excelências, para os demais esclarecimentos e diálogos.

Atenciosamente, Dourados-MS, 23 de fevereiro de 2012.

Conselho/Comissão de Aty Guasu Guarani-Kaiowá-MS,

Eliseu Lopes, Rosalino Ortiz, Tonico Benites

Nenhum comentário:

Postar um comentário