quinta-feira, 23 de maio de 2013

É boa solução importar médicos

jc
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É boa solução importar médicos
 
Editorial do Jornal O Globo: Com apenas 1,8 médico/mil habitantes, o Brasil tem falta de profissionais. Há 3 mil cidades desassistidas. O corporativismo não pode impedir uma solução


Num país de corporações e grupos organizados em torno de interesses setoriais, e cuja atuação costuma passar a léguas de distância das efetivas carências nacionais, não é apenas a evidente necessidade de se modernizar os portos que atrai crítica e oposição de alianças criadas para defender privilégios e vantagens.

Mesmo a atração de médicos estrangeiros para suprir a carência de profissionais em cidades menores e junto a faixas menos atendidas da população causa furor. Quando nada tem de inédito no mundo o incentivo à imigração de profissionais de que um país necessite. São conhecidos, e imitados, programas de atração de profissionais de elevada especialização, geralmente para áreas de ciências exatas, existentes em nações desenvolvidas.

Na primeira menção de autoridades federais à possibilidade de o Brasil atrair médicos para trabalhar em regiões desassistidas do país - concentradas no Norte e Nordeste -, logo surgiu uma barreira de críticas de entidades corporativas, zelosas na defesa de respectivos mercados de trabalho.

Entre os argumentos contrários à vinda de profissionais, um dos mais citados é que tudo se deve a salários supostamente irrisórios pagos na rede pública. A distribuição geográfica da mão de obra, qualquer que seja ela, depende, é fato, de condições objetivas, entre elas a remuneração.

E os centros urbanos maiores costumam ser bem mais atraentes. Mas as estatísticas disponíveis demonstram haver uma oferta de médicos inferior à demanda por eles. Independentemente da maior ou menor concentração deles em certas regiões.

Aos dados: há no Brasil uma proporção de 1,8 médico por grupos de mil habitantes, enquanto esta taxa é de 2,4 nos Estados Unidos, 3,6 na Alemanha, 4 na Espanha, 3,9 em Portugal etc. É indiscutível que há a escassez desses profissionais no Brasil.

Diante disso, o governo deseja aproveitar a crise europeia, caracterizada por elevadas taxas de desemprego, e atrair médicos de lá, e com eles assinar contratos temporários de trabalho, para dar tempo aos estudantes que estão agora nas faculdades de medicina de se formarem.

Não pode haver dúvida que todos precisam cumprir os trâmites normais para a validação de diplomas, sem que haja qualquer tratamento especial. Sequer para médicos cubanos, os quais, por simpatia ideológica existente no governo, poderiam ter a imigração facilitada. Seria inaceitável, pois está em jogo a saúde da população.

Diante da constatação de que das 5.500 cidades brasileiras não há médicos em 3 mil, não pode haver barreira corporativista à vinda de profissionais estrangeiros. Mas tudo precisa ser feito dentro da seriedade que o assunto requer.

(O Globo)

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