sábado, 26 de novembro de 2011

Repúdio ao assassinato do cacique Guarani-Kaiowá


MOÇÃO DE REPÚDIO


Repúdio ao assassinato do cacique Guarani-Kaiowá Anísio Gomes e à toda violência física e simbólica sobre os Povos Indígenas no Mato Grosso do Sul

A Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados, constituída pelos cursos de Graduação em Ciências Sociais, Geografia, História e Psicologia, e pelos programas de pós-graduação em Antropologia, Geografia e História, repudia veementemente o assassinato do indígena Kaiowa cacique Nísio Gomes, morto no último dia 18 no acampamento “Tekoha Guaviry” no município de Amambai (Mato Grosso do Sul).
O assassinato de Nísio Gomes é, infelizmente, a demonstração da persistência perversa da histórica violência sobre os Povos Indígenas no Mato Grosso do Sul e no Brasil, nos últimos cinco séculos, e que tem se acentuado drasticamente nos últimos anos, quando os Povos Indígenas intensificam os movimentos e as lutas pela retomada de seus territórios.
O assassinato de Nísio Gomes é, sobretudo, mais uma tentativa de assassinato de Direitos assegurados constitucionalmente. A violência contra os Povos Indígenas é também, por isso, a do desrespeito ao Estado Democrático de Direito, reproduzindo práticas coronelistas de apropriação e manutenção do poder material e simbólico sobre a terra (os aproximadamente quarenta pistoleiros-assassinos chegaram no acampamento com camionetas modelo “Hilux” e “S10”, como relataram os indígenas que sobreviveram, demonstra que a violência é também uma violência de classe, dos que mais tem sobre os que pouco ou nada tem).
O assassinato de Nísio Gomes reproduz uma “grafia” espacial marcada pelo latifúndio e transvestida pelo “moderno” agronegócio. A apropriação da terra no Mato Grosso do Sul foi historicamente a produção de uma geografia da violência, do assassinato, da morte. Uma história reproduzida a cada dia, sem trégua, em nosso estado: em 2010, segundo dados registrados pelo CIMI, das 1.015 lesões corporais sofridas pelos povos indígenas no Brasil, 1.004 aconteceram no Mato Grosso do Sul; das 152 ameaças de morte, 150 aconteceram no Mato Grosso do Sul; e dos 60 assassinatos, 34 ocorreram no Mato Grosso do Sul (como apontado por Márcia Mizusaki em “O ‘agrobanditismo’ e as disputas territoriais no Mato Grosso do Sul”, 2011).
O assassinato de Nísio Gomes é mais um assassinato do “grito” pela vida inteira, de todas e de todos. Mas um grito que teima em não calar porque os silêncios servem apenas para a manutenção da acumulação da terra e da riqueza e da violência em torno dela. O grito, ao contrário, ecoa! E o eco do último grito de Nísio persistirá polifônico para que os direitos de todos os povos (indígenas, quilombolas, negros, camponeses, ribeirinhos etc) sejam assegurados e respeitados.

Dourados – MS, 23 de novembro de 2011.

Conselho Diretor da FCH-UFGD
Edvaldo Cesar Moretti

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