domingo, 14 de outubro de 2012

Mestre Derli: a Cidade de Deus ontem e hoje

ibase
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Mestre Derli: a Cidade de Deus ontem e hoje

Marília Gonçalves
do Canal Ibase
Quando Derli foi morar na Cidade de Deus, a comunidade ainda não era tão grande. As casas, construídas pelo governo do Estado da Guanabara, não eram separadas por muros e eram bem pequenas, tinham apenas quarto e sala. Era 1966, um ano depois da grande enchente que aconteceu na cidade e fez o governo remover uma parte da população afetada – além de moradores de outras favelas do Rio, como a Rocinha – para a Cidade de Deus, que havia sido inicialmente planejada como um conjunto de habitação popular. Hoje, a favela tem 36,5 mil habitantes, segundo o Censo de 2010 realizado pelo IBGE. Moradores, no entanto, afirmam que o número é bem maior.
A percepção de Derli da Silva Costa, ou Mestre Derli, como é conhecido, é de que a comunidade melhorou muito nessas últimas quatro décadas, em termos de urbanização e serviços públicos oferecidos. Derli é conhecido dentro e fora da CDD por ser capoeirista e ter importante trabalho na formação de crianças, jovens e adultos para a manutenção desta cultura. Atualmente, ele dá aula em uma escola municipal dentro da comunidade, na Casa de Cultura da Cidade de Deus, além de uma academia particular dentro da favela e uma instituição filantrópica em Jacarepaguá.
Agora com 56 anos, Derli é casado e tem duas filhas. Vive tranquilo no Karatê, uma das regiões da Cidade de Deus. Já se apresentou para Barack Obama, quando o presidente dos Estados Unidos visitou a comunidade, ganhou prêmios internacionais e virou até personagem de livro: um pouquinho de sua história é contada por Valéria Barbosa no livro “Os grandes Mestres Guardiões da Cidade de Deus”. Mas sua infância não foi tão tranquila: Derli foi menino de rua dos sete aos nove anos de idade. Conta que, com oito anos, enquanto dormia, três pessoas lhe atearam fogo. Foi socorrido e acolhido por outros três que lhe apresentaram a arte da capoeira, aperfeiçoada ao longo dos anos com outros mestres. Morava nas ruas de Ipanema, onde participava de rodas de capoeira e era, vez ou outra, alimentado por artistas como Leila Diniz e Marieta Severo.
Ainda não está cem por cento: o que tem de melhorar na Cidade de Deus
Derli acredita que os serviços públicos prestados na comunidade ainda não estão “cem por cento”. A quantidade oferecida não dá conta de atender toda a população, logo, aumentar a oferta dos serviços que já existem, como a coleta de lixo, por exemplo, já seria um grande avanço. O poder público, que planejou a Cidade de Deus, parece não ter dado conta de seu crescimento. Apesar da comunidade ter diminuído 3,98% nos últimos dez anos, ainda segundo dados do Censo 2010, os serviços não atendem a todos.
Quanto à urbanização, Derli reclama das obras que estão acontecendo atualmente na CDD, realizadas pelo projeto Bairro Maravilha. “O cimento é fraco, quebra toda hora”, comenta. Ele diz que para os moradores da Beira do Rio, outra favela da CDD, a situação é pior. “É uma região em que passam muitos caminhões, carros de carga, então o asfalto não aguenta”. Essa área depende de uma manutenção mais cuidadosa. Apesar disso tudo, Derli diz estar satisfeito. “A Cidade de Deus está melhorando bastante. Antes não tinha nada aqui”, afirma.

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