quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Occupy Wall Street mudou o foco do debate nos EUA, diz ativista

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Occupy Wall Street mudou o foco do debate nos EUA, diz ativista

"Precisamos construir um 'exército de justiça social', que pratique a resistência não-violenta", defendeu Justin Wedes, em evento em São Paulo para promover o Fórum Social Mundial 2013, que neste ano acontecerá em Tunis, na Tunísia, de 26 a 30 de março
31/01/2013
João Ricardo Penteado
Em setembro de 2011, um grupo de manifestantes resolveu ocupar o parque Zuccotti, localizado no distrito financeiro de Wall Street, em Nova York, em protesto contra as corporações, acusadas pela crise financeira dos Estados Unidos. Ganhava vida ali o Occupy Wall Street (OWS), movimento inspirado na Primavera Árabe, e que ajudou a inspirar movimentos de ocupações no mundo inteiro.

O ativista norte-americano Justin Wedes era um dos que estavam no movimento desde o início. Ele fez parte da primeira equipe de mídia do OWS. “Meu objetivo era difundir a mensagem da ocupação para todo o mundo, investindo sobretudo nas redes sociais”, disse em entrevista a Opera Mundi.
 
Justin Wedes, do OWS: "precisamos construir um 'exército de justiça social', que pratique a resistência não-violenta" - Foto: João Ricardo Penteado/Opera Mundi 
Wedes é graduado em física e linguística, além de ser ativista. Ele participou de evento em São Paulo nesta terça-feira (30/01) para promover o Fórum Social Mundial 2013, que neste ano acontecerá em Tunis, na Tunísia, de 26 a 30 de março.

Opera Mundi: Como você definiria o movimento OWS?
Justin Wedes: A definição é difícil e cada pessoa deve ter uma diferente. Para mim, o OWS tem a ver com o empoderamento das pessoas, para que elas possam enfrentar questões relativas à justiça social e à econômica em nosso país. Para que elas possam lutar por uma democracia real, por uma economia mais justa e humana e também por um mundo onde queiramos viver, crescer e criar nossas famílias.

OM: Quais foram as principais conquistas do movimento até agora?
JW: A primeira coisa que nós fizemos foi conseguir estabelecer um diálogo em nosso país que não existia antes. Esse diálogo era sobre justiça econômica, sobre o resgate financeiro concedido pelo governo aos bancos e como ele, o governo, e Wall Street, trabalharam juntos para fraudar e roubar dos 99%. Era um tempo em que se falava sobre o aumento ou a diminuição do teto da dívida, sobre a redução de serviços, a redução do orçamento, o fechamento de escolas e hospitais, e nós mudamos o foco desse debate para “justiça”. Queríamos nos certificar que todos somos responsáveis pelo bem estar do país, e que não só os mais pobres teriam que pagar pelos erros de Wall Street.
OM: E quais foram as grandes falhas?
JW: Eu sou um otimista, então eu enxergo o que seriam “falhas” como desafios para o futuro. O desafio maior para mim no momento é fazer esse movimento ecoar e ser acessível para todos os trabalhadores. Nós começamos como um pequeno movimento de pessoas que não éramos diversas. Não representávamos os 99% dos quais falávamos a respeito. O que nós vemos acontecer no nosso segundo ano é que temos que enfrentar questões e causas que são importantes para os trabalhadores. Por exemplo, o furacão Sandy que atingiu Nova York. À época, nós fizemos o Occupy Sandy. Ajudamos as pessoas cujas casas foram tomadas por enchentes e as que foram despejadas de suas casas. Tentamos assistir quem está sofrendo com dívidas, muitas ilegítimas. Então eu acho que enfrentar essas causas é um grande desafio para nós, pois isso nos torna mais “aplicáveis” na vida das pessoas.
OM: Como está organizado o OWS agora?
JW: Ser despejado da praça foi uma grande reviravolta para o movimento, porque deixamos de nos focar em manter uma ocupação física. De fato, precisávamos criar nossa rede fora de Manhattan, e assim ir para as comunidades e construir o poder comunitário, com assembleias comunitárias organizadas de quarteirão em quarteirão, de cidade a cidade, por todo o país. Nos tornamos agora uma rede nacional e internacional -- firme e muito solidária. Não há nenhuma chance no momento para os 99%. É um jogo injusto, e nós temos que nos organizar no nível mais básico, de uma casa a outra, para que consigamos realmente construir um “exército de justiça social”, que pratique a resistência não-violenta, para enfrentar esse governo injusto e esse sistema econômico perverso.

OM: Qual o principal legado do movimento?
JW: Eu acho que o nosso principal legado é a frase "Nós somos os 99%". Essa frase tem sido o melhor legado do Occupy Wall Street porque é um chamado à ação. Não se trata de uma divisão entre os 99% e o 1%, mas uma união entre todas as pessoas que se importam com justiça, com igualdade, com pessoas pobres, com trabalhadores. Nós somos os 99%. Há muito mais de nós que deles.

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