domingo, 24 de fevereiro de 2013

Comitê de solidariedade a dom Pedro Casaldáliga e ao povo Xavante

pontifícias obras missionárias
http://www.pom.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1704:comite-de-solidariedade-a-dom-pedro-casaldaliga-e-ao-povo-xavante&catid=16:nacionais&Itemid=75


Por Assessoria de Imprensa   
25 / Jan / 2013 08:55
Desde novembro de 2012, d. Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, vem recebendo ameaças de morte devido à sua luta pela devolução das terras batizadas como Marãiwatsédé aos índios da etnia Xavante.

No início de dezembro, após a Justiça derrubar dois recursos que tentavam adiar a retirada dos não índios da região, agora chamada Gleba Suiá Missú, ele teve de se deslocar contra sua própria vontade para uma localidade não revelada para sua própria segurança.
Ainda assim, d. Pedro retornou em 29 de dezembro a São Félix, estando agora sob proteção policial. Porém, além de Casaldáliga, diversas lideranças indígenas e agentes da pastoral também estão sendo ameaçados desde que o Incra iniciou o processo de desintrusão da região.

Breve Histórico:
Com 165.241 hectares (ha) a Terra Indígena (TI) Marãiwatsédé está localizada entre os municípios de São Félix do Araguaia, Alto da Boa Vista e Bom Jesus do Araguaia. Estudos antropológicos comprovam que o povo Xavante já ocupava o território desde muito antes dos primeiros não índios lá chegarem. Contudo, em 1966 o Governo Militar de Castelo Branco os removeu forçadamente em aviões das Forças Aéreas Brasileiras (FAB) para cerca de 400 quilômetros de seu território tradicional, enviando-os para a Missão Salesiana São Marcos, onde dois terços dos indivíduos acabaram sendo dizimados devido a um surto de sarampo.

A remoção foi influenciada pela família Ometto, de origem paulista e então proprietários da Fazenda Suiá Missú, para que pudessem ampliar seu latifúndio. Os proprietários convenceram os superiores da Missão Salesiana S. Marcos a aceitarem os índios e a fazenda se tornou uma das maiores propriedades rurais do mundo, senão a maior. Documentos da Prelazia de São Félix relatam que desde então os Xavantes "voltam anualmente a sua terra para apanhar o Pati, árvore por eles usada na confecção dos seus arcos e flechas".

Em 1980, no entanto, as terras da Suiá Missú foram vendidas à empresa petrolífera italiana Agip Petróleo, que foi pressionada, inclusive internacionalmente, a devolver o território aos indígenas. Em 1992, na conferência Eco 92, ocorrida no Rio de Janeiro, a empresa finalmente informou que realizaria a devolução das terras aos Xavantes. Porém, na mesma semana do evento, o então gerente da fazenda, Renato Grilo, se reuniu com diversos políticos e representantes locais no Posto da Mata (distrito de Estrela do Araguaia) para incentivar a população a se apropriar definitivamente da região.

Na ocasião, estavam presentes o então prefeito de São Félix do Araguaia (e atual, eleito para a gestão 2013-16), José Antonio de Almeida (PPS/MT), o "Baú", e o advogado Ivair Matias, além de muitos grandes fazendeiros e a população que começava a chegar na região. Em gravação da Rádio Mundial FM, registrada em 20 de junho de 1992, Baú conta à população presente que "em 1966 (os índios) 'foram embora' para uma outra reserva". Dr. Ivair incentiva a invasão por parte do povo: "vem vindo por aí, caravanas imensas de famílias (...) aqueles que têm alguma esperança de ver concretizada essa reserva (indígena), pode 'tirar o cavalinho da chuva'; e isso está nas mãos dos senhores".

Na mesma reunião também estava o ex-prefeito de São Félix, Filemon Gomes Costa Limoeiro (PSD/MT), que incitava o ódio da população contra os índios: "Aqueles que estão preocupados com os índios que tem que assentar, tem um monte de país que não tem índio, pode levar a metade. (...) Na Itália tem índio? Não, não tem. Leva! Leva pra lá!... Carrega pra lá! Agora, não vem jogar em nós [sic], não". E Baú enfatiza: "Se a população achou por bem tomar conta dessas terras em vez de dá-la para os índios, nós temos que dar respaldo a esse povo (...) é o próprio povo que está entrando. (...) Esta área ainda não foi passada a escritura para os índios, ainda é da fazenda. (...) Não queríamos índios aqui porque se não ia desvalorizar toda a região (...) e nós esperamos que tenhamos sucesso em não aceitar o retorno dos índios".

Entretanto, são estes mesmos proprietários que atualmente, em diversas entrevistas, têm relatado à imprensa que nunca tiveram conhecimento de nenhum Xavante na região. Como o ex-prefeito Filemon, proprietário das fazendas Aripuanã e Saraiva, que juntas somam 565,5 ha.

O estudo entre Funai, Incra e Ibama confirma que apenas 22 fazendas pertencentes a grandes proprietários ocupam um terço do território, ou 43 mil hectares. "Estas fazendas foram as principais responsáveis pelo rápido desmatamento da área (...) é a terra indígena com maior área desmatada da Amazônia Legal, com 61,5% do território desmatados", aponta o relatório.

Entre os grandes proprietários estão o ex-vice-prefeito do município de Alto da Boa Vista, Antonio Mamede Jordão, dono da Fazenda Jordão, com a maior propriedade registrada: 6.193,99 ha; e o ex-prefeito, também de Alto da Boa Vista, Aldecides Milhomem de Cirqueira, que possui seis fazendas, num total de 2.200 ha; e o desembargador do Tribunal de Justiça do Mato Grosso, Manoel Ornellas de Almeida, cuja fazenda tem 886,8 ha.

Também estão entre estes proprietários os irmãos Gilberto Luiz de Resende, o Gilbertão, e Admilson Luiz de Resende, responsáveis por incentivar a invasão dos posseiros, o que na época foi apelidado de "reforma agrária privada". Gilbertão é citado em inquérito da Polícia Federal por grilagem de terra, trabalho escravo e por utilizar capangas para espancar trabalhadores, além de ser dono de quase 2.700 ha de terras da região. Admilson é ex-vereador de Alto Taquari e tem três fazendas que somam o total de 6.641,3 ha.

A população mais uma vez é feita de refém e utilizada como massa de manobra nos ataques contra o povo Xavante, d. Pedro Casaldáliga e agentes da pastoral. Os conflitos são inflamados justamente pelos grandes proprietários que, em sua ganância e poder, passaram a ameaçar Casaldáliga e os indígenas envolvidos com o processo de desintrusão de Marãiwatsédé.

O Estado Brasileiro também se coloca como cúmplice dos conflitos na região, quando permite que por mais de vinte anos estas terras fossem invadidas e os processos judiciais caminhassem em tamanha morosidade. Também chama atenção o fato de que o advogado da Associação dos Produtores Rurais da Suiá Missu, entidade que representa os invasores, é Luiz Alfredo Abreu, irmão da senadora Kátia Abreu (PSD/TO), representante maior da chamada "bancada ruralista" no senado.

Durante todo este período o território Xavante foi ocupadoprincipalmente por poderosos fazendeiros, políticos, e empresários que se apoderaram de grandes fatias da terra, enquanto os pequenos produtores eram incentivados a obter áreas de no máximo 100 ha. Os estudos que identificaram a área foram concluídos em 1993 e a demarcação do território homologada em 1998, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Somente em 2004 os Xavantes conseguiram retomar uma reduzida parcela de seu território após ocupar por 10 meses a Rodovia BR-158. Mas foi apenas em 2010, após muito tempo entre êxodos e sofrimento do povo Xavante que a Justiça Federal determinou, em decisão unânime da 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, a saída dos não índios das terras que compõem Marãiwatsédé.

Apesar de sua indiscutível resistência, o processo de retomada e permanência dos povos originários às suas terras é sempre muito árduo e doloroso para os índios. Tem sido assim com os Guarani Kaiowás, no Mato Grosso do Sul; com os Pataxós Hãhãhãe e Tupinambás de Olivença, no sul da Bahia; os Tembé, no nordeste do Pará; entre tantas outras etnias espalhadas pelo Brasil. Também não podemos esquecer da luta pela preservação da relação sociocultural e ambiental destes territórios, como tem sido com as mais de 20 etnias residentes na Bacia do Rio Xingu, ameaçadas pelas obras de Belo Monte.

Como todos estes, os Xavantes batalham e esperam há mais de 50 anos pela devolução de seu território ancestral. Sua luta, assim como a de dom Pedro Casaldáliga, é legítima e é também nossa, e não pode se tornar mais um capítulo entre tantos, cujos desfechos resultaram em mortes e derramamento de sangue.

Nesse sentido, manifestamos nossa irrestrita solidariedade ao povo Xavante e a d. Pedro Casaldáliga, que no próximo 16 de fevereiro completará 85 anos de idade. Pedimos que entidades em defesa dos direitos humanos, movimentos populares, sindicatos, pastorais, partidos políticos, movimento estudantil e todos que lutam e se colocam enquanto sujeitos ativos na transformação da sociedade estejam em unidade para denunciar a situação de violência e tensão na região de Marãiwatsédé, que mais uma vez ameaça vidas em nome da acumulação de capital.

Comitê de solidariedade a dom Pedro Casaldáliga e ao povo Xavante.
São Paulo, janeiro de 2013

Leia a carta da comunidade Xavante de Marãiwatsédé à sociedade brasileira:
http://goo.gl/AMr4V

O ato acontecerá na Câmara Municipal de São Paulo, 07 de fevereiro (quinta-feira), às 19h, no Salão Nobre - 8º andar.

Contatos para inclusão de assinaturas e dúvidas:
Paulo Pedrini: pcpedrini@ig.com.br
Alexandre Maciel: alexandre.maciel.silva@gmail.com
Alexandre Ferreira: aleterralivre@riseup.net


Assinam esta nota:

Pastoral Operária

Intersindical

Terra Livre - Movimento Popular do Campo e da Cidade

CSP Conlutas

Jornal Voz da Comunidade

ECLA - Espaço Cultural Latino Americano

Rede de Proteção Autônoma aos Militantes Ameaçados de Morte

Agenda Colômbia-Brasil

Sindicato dos Químicos Unificados de Campinas, Osasco e Vinhedo

Mand. Vereador Toninho Vespoli / PSOL

Escola da Cidadania da Região Sul de São Paulo

Mand. Deputada Federal Luiza Erundina / PSB

CORSA - Cidadania, Orgulho, Respeito, Solidariedade e Amor

Tribunal Popular

Instituto Zequinha Barreto

Pastoral da Diversidade

Sindicato dos Bancários de Santos e Região

SINTARESP - Sind. dos Téc. em Radiologia do Estado de São Paulo

Coletivo Bancários na Luta

Coletivo Socialismo e Liberdade / PSOL

Fonte: www.evernote.com
 
Comentários (1)
Cordel casaldáliga
04 / Fev / 2013 19:15
Envio algumas estrofes de um cordel a Dom Pedro Casaldaliga. Se tiver interesse em apresenta-lo nesse evento, mande um e-mail e eu o remeterei. 

Medeiros Braga 

As estrofes a seguir: 

PEDRO CASALDÁLIGA 
COM A MORTE ANUNCIADA 

“De um lado estava a igreja, 
Índio, posseiro, peão, 
Do outro, governo, exército, 
Fazendeiro, batalhão, 
E ainda pra completar 
A milícia do lugar, 
A justiça de então.” 

(Algumas da 64 estrofes do cordel) 

Abro as asas da poesia 
Pra narrar com realismo 
A história dum guerreiro 
De crença e idealismo, 
Sua opção radical 
De luta no social, 
De fé no cristianismo. 

Ele é Pedro Casaldáliga 
Nascido na Barcelona 
E que veio ao Brasil 
Para perigosa zona, 
A região amazônica 
Onde de forma tirânica 
Tinha ela a sua dona. 
.............................. 
Chegou, pois, no Araguaia 
Com um país conturbado, 
Só tinha vez no poder 
Quem estava do seu lado, 
Quem tinha a ideologia 
Da ditadura, da CIA, 
Desse regime implantado. 

Principalmente, na área 
De São Felix do Araguaia, 
Onde não havia lei, 
Mandava a força lacraia, 
Os pobres como os posseiros, 
Índios, peões, carvoeiros 
Eram tratados por laia. 

Quem ousasse contestar 
A sua ação terrorista, 
Discordar da extorsão 
Que se dava sempre em vista, 
Como resposta, acossado, 
Era de pronto acusado 
De terrível comunista. 

Dom Pedro então que viera 
De apoio ao oprimido, 
Para defender o índio 
Injustiçado, excluído, 
Sabia que no lugar 
Ia ter que enfrentar 
Um inimigo atrevido 
.................................... 
Eis o clima que Dom Pedro 
Casaldáliga, com energia, 
Enfrentou pra construir 
Um pedaço da utopia, 
Utopia que já vinha 
Tecendo em versos na linha 
Do carretel da poesia. 

Ao chegar foi acusado 
De ser mais um comunista, 
Com seu ataque ao sagrado 
Sistema capitalista, 
Disfarçado de pastor, 
Deve ser um agitador, 
Subversivo, ativista. 

Enfrentando esse inimigo, 
Nos seus versos confessou: 
“Chamaram-me subversivo 
E eu lhes direi: eu sou!... 
Na busca do objetivo 
Por meu povo em luta vivo, 
Com meu povo, em marcha, vou.” 

Deixou também sua marca, 
Nessa identificação: 
“Tenho fé de guerrilheiro 
E amor de revolução.” 
“Contra o poder e o dinheiro 
Eu apoio o bom guerreiro, 
Incito a subversão.” 
................................... 
Naquele tempo os xavantes 
Foram expulsos da terra, 
Matas foram derrubadas, 
Não ficou uma só fera, 
Com violência e malícia 
Foi criada uma milícia 
Poderosa em toda esfera. 

Com arsenais poderosos 
Um bando de vis sicários 
Chegou ali, se apossou 
Já como proprietários 
De glebas mirabolantes 
Para implantar os gigantes 
Projetos agropecuários. 

Essa reserva xavante 
Seria depois comprada 
Pela AGIP italiana, 
Mas, de forma bem pensada 
Na Eco-Noventa e Dois 
Ela disse que depois 
Aos índios seria dada. 

Só depois de vinte anos 
A justiça, enfim, julgou 
Toda desocupação 
Da terra pelo invasor, 
O julgamento se encerra 
Do xavante e sua terra 
Desta vez em seu favor 

O pivô dessa vitória 
Imprimida a seu algoz 
Foi Dom Pedro Casaldáliga 
Que não calou sua voz, 
Que sem arma e sem poder 
Pôde em vida combater 
Sem temer algo de atroz. 

Mas, dos latifundiários 
Sua fúria foi mostrada, 
Pois, esse religioso 
Sem usar arma de nada, 
Como Chico Mendes sendo, 
No Araguaia está tendo 
Sua morte anunciada. 

Foram muitas ameaças 
De mortes que recebera, 
Lá em um bar de São Felix 
No meio da bebedeira 
Pôde um capanga dizer 
Que ele iria morrer 
Por uma bala certeira. 

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