quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Obras da Copa: "A engenharia civil da UFMT está chorando''

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Obras da Copa: "A engenharia civil da UFMT está chorando''

Luiz Miranda diz que falhas em elevado e Trincheira Santa Rosa são a "ponta do iceberg"

Tony Ribeiro/MidiaNews
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Viaduto da Sefaz: engenheiro Luiz Miguel de Miranda (detalhe) diz conserto vai dobrar valor de obra
LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MT) e doutor em engenharia de Transportes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o professor Luiz Miguel de Miranda afirmou, em entrevista ao MidiaNews, que o Departamento de Engenharia Civil da instituição está “chorando”, diante da má qualidade das obras de mobilidade urbana que estão sendo executadas na Capital.

“O Departamento de Engenharia Civil da UFMT está chorando porque a vergonha que vamos passar, em âmbito nacional, com essas obras, é muito grande”, disse.

Miranda foi taxativo ao afirmar que as falhas encontradas nas obras dos viadutos da UFMT e da Sefaz e na Trincheira Santa Rosa são apenas “a ponta do iceberg” que será descoberto, posteriormente, caso uma análise mais profunda seja feita em todos os projetos iniciados na Grande Cuiabá.
"O departamento de Engenharia Civil da UFMT está chorando, porque a vergonha que vamos passar em nível nacional com essas obras é muito grande"

“Que tem erro de ponta a ponta nesses projetos da Copa, não tem como negar. Nenhuma dessas obras vai passar impune, porque faltaram planejamento, elaboração de projeto, controle de execução e controle tecnológico”, afirmou.

Risco de desabamento

Luiz Miranda afirmou que o medo da população pode ser sentido pela manifestação de amigos e conhecidos, que ligam para ele e outros estudiosos, a fim de saberem se é seguro passar pela parte inferior do Viaduto da Sefaz, na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do CPA), por exemplo.

"Se tiver um problema de fundação, somado à falta de ferro, não pode passar ninguém por cima. Porque, se passar carga em cima e o terreno entrar em colapso progressivo, ela vai ao chão"
A obra foi interditada em agosto passado, após apresentar, segundo o Consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande – responsável pela obra –, “fissuras nas juntas de dilatação”, problema que ganhou uma proporção muito maior quando da divulgação do relatório técnico pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), na terça-feira (2), durante sessão plenária.

O documento elaborado por uma empresa terceirizada contratada pelo consórcio, segundo o conselheiro Antônio Joaquim, aponta que foram encontradas falhas nos blocos de fundação da obra e na estrutura “tipo caixão” do elevado, que demandam a execução de obra de reforço, com acréscimo de concreto e aço.

“(...) Consta no relatório que falta ferragem na obra. Se a ferragem é insuficiente, a precaução tem que ser maior. Se o pilar central realmente recalcou, tem que colocar escola e pilares ali no viaduto imediatamente, até que algo seja feito”, disse.

De acordo com o professor Luiz Miranda, de imediato, o que podia ser feito na obra, o Estado já fez: a interdição total, uma vez que o próprio laudo técnico aponta que, “se não há uso [da obra], ela não cai”.

“Se tiver um problema de fundação, somado à falta de ferro, não pode passar ninguém por cima. Porque, se passar carga em cima e o terreno entrar em colapso progressivo, ela vai ao chão. Se a falha for essa, o mais acertado seria desmontar o viaduto imediatamente”, afirmou.

"Nenhuma dessas obras vai passar impune, porque faltaram planejamento, elaboração de projeto, controle de execução e controle tecnológico"
“De imediato, o que tinha que ser feito, já foi, que é tirar a carga de cima do viaduto”, completou.

Obra de reforço


O professor da UFMT observou ainda que, conforme o que obteve de informações a respeito do elevado da Sefaz – cujo valor está estimado em R$ 18 milhões, dos R$ 1,47 bilhão destinados ao projeto de implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) –, “a fundação está a 10 metros e o projeto diz que elas deveriam estar a 15 metros”.

De acordo com ele, apesar da falha ser grave, com uma equipe de engenheiros capacitados, é possível “salvar a obra”, sem que para isso seja necessária a demolição do viaduto.

No entanto, o “reforço” na estrutura vai demandar mais paciência da população – devido aos problemas no trânsito – e muito mais dinheiro do Governo do Estado, independentemente de a obra ser parte de um pacote licitado por meio do regime Diferenciado de Contratação (RDC), que não permite a realização de aditivos.
Tony Ribeiro/MidiaNews
Viaduto da Sefaz, na Avenida do CPA: população tem medo de passar por baixo de obra, diz professor

“Dá pra salvar a obra. É caro, mas conseguimos salvar o projeto. Lógico que o preço da obra dobra, porque são serviços que precisam ser executados em situação de maior dificuldade, sem logística. E vai ter que tirar o trânsito dali, para poder reforçar a fundação”, afirmou.

Auditoria

Segundo o professor da UFMT, a auditoria anunciada pelo Estado, em todos os projetos de infraestrutura (trincheiras, viadutos e pontes) vai custar muito dinheiro, mas sua necessidade já era “anunciada” pelos conselhos e órgãos de controle há tempos, a fim de garantir a segurança do uso dessas obras pela população.

“O Governo vai ter que gastar mais para garantir a segurança de todas elas, mas é necessário. Mas isso a gente já sabia lá atrás, quando essas obras começaram. Mas as pessoas achavam que era ‘catastrofismo’. Agora, elas estão vendo a realidade”, afirmou.

Leia mais sobre o assunto:

TCE: "Está claro que houve problemas graves de execução"

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